Na minha pele

quarta-feira, abril 19, 2006

Morte às Aranhas

Um desaforo!
Hoje fui obrigada a ficar cerca de dez minutos sendo perseguida por imagens de aranhas caranguejeiras e escorpiões. Tudo porque um veículo de uma detetisadora estava completamente coberto de figuras desses animais.

Para mim, que sou altamente aracnofóbica, além de sofrer o pânico normal ao ver a imagem de uma aranha, ainda tive que manter a calma e dirigir não olhando para o lado.
Isso até seria fácil se o trânsito estivesse andando, mas estava presa numa rua pequena, com tudo meio parado e este carro insistia em ficar exatamente ao meu lado.
A visão periférica, que nossos olhos nos garantem, fez com que eu ficasse mais e mais incomodada.

É tão necessário assim colocar esses bichos estampados no carro?
Será que não há outra forma de fazer propaganda sem colocar essas imagens?
Quem sofre deste tipo de pavor, como eu, se sente violado.
Uma vez eu quase bati o carro quando olhei para um outdoor de um filme chamado "Malditas Aranhas", onde o outdoor inteiro estava pintado com aranhas... pra quê????
Coitados de nós....
Morte às Aranhas

segunda-feira, abril 17, 2006

Grande Vinícius

Ausência - (Vinícius de Morais)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Quando Nietzsche não chorou

Horas de leitura intensa, outras tantas de profundo questionamento e por fim, mais algumas de lágrimas nos olhos. Este foi o meu percurso ao ler o magnífico best-seller "Quando Nietzsche Chorou" do psiquiatra Irvin D. Yalom
Meses depois, para a minha surpresa e alegria, vi que entrava em cartaz no Teatro Imprensa uma adaptação do texto tendo Cássio Scapin como Nietzsche e Nelson Baskerville como Dr. Breuer, além das participações especiais em vídeo de Ana Paula Arósio, Lígia Cortez e Flávio Tolezani.
De fato o diretor Ulisses Cohn foi audaz em tentar levar aos palcos um texto com tamanha profundidade que retrata todo um mundo interno de dois personagens nada simples. Foi com muita curiosidade e empolgação que fui assistir à peça, mas me arrependi.
Por mais que me incomode fazer uma crítica contundente à atores que respeito tanto, é preciso deixar de lado a admiração para falar do que realmente se passa naquelas duas horas de peça.
Sentados em poltronas completamente desconfortáveis, do tipo de saguão de aeroporto, qualquer peça já se tornaria fisicamente desconfortável. Mas esse é apenas o primeiro desconforto. Abrem-se as cortinas e vemos uma palco completamente branco, com móveis quase totalmente modernos e uma iluminação mais clara do que seria necessário.
O texto se passa em cômodos escuros e em salas com lareiras. As palavras são pesadas e um palco daqueles não traz nenhuma sensação de obscuridade que podemos sentir no livro. É claro que no fundo do palco, devido ao uso de recursos de vídeo, era necessário o uso de um pano branco, mas o cenário tem três paredes e poderia ter clareado apenas uma.
Durante um dos momentos mais intensos do roteiro, cena onde Nietzsche passa muito mal e pede ajuda ao Dr. Breuer, a peça coloca uma música tão alta, que ninguém consegue realmente ouvir o que Cassio Scapin tenta tão bravamente dizer.
Aliás, vamos à atuação deste ator que eu admiro há anos. Não entendo exatamente o que ele tentou fazer com o personagem Nietzsche...Um homem que não gostava de falar, não se socializava facilmente e, pelo que vemos no livro, não usaria o tom sarcástico nos momentos cruciais da discussão.
Não vi um Nietzsche profundamente triste e desiludido, não vi um homem brilhante e doente. Vi um homem argumentativo, que tossia de vez em quando e que era sarcástico, fazendo com que a platéia, acredite ou não, desse boas risadas.
Risadas?
Várias, inclusive.
São tantas as críticas que tenho a fazer à peça que me desanimo a continuar. Foi uma grande desilusão. As personagens femininas nem se aproximam das grandes mulheres do livro. A mania de colocar a Ana Paula Arósio em papéis de época já passou do ponto.
A lenta ligação entre os dois reticentes personagens, Nietzsche e Breuer, nem é percebida porque já começa com altos bate papos.
É uma peça de teatro, obviamente tem suas limitações. É uma adaptação e o diretor tem o direito de fazer o que quiser com o texto que aliás, é sobre assuntos e relações muito profundas, ficando difícil retratar tudo em apenas duas horas. Mas sinto que é uma adaptação ruim.
Mas é possível ser mais fiel.
Um pouco mais de silêncio em algumas cenas.
Um pouco mais de olhares de perturbação interna.
Menos sarcasmo e, com certeza, outro cenário fariam da peça uma obra muito mais verdadeira.
Confesso que um colega que assistiu comigo e não leu o livro, saiu da peça admirado dizendo que gostou. Comentou que se fosse mais intenso e não tivesse rido algumas vezes, teria sido pesado demais.
Mas eu discordo.
Quem vai à peça adaptada de um livro, tem que saber que tipo de assunto se trata. Se quiser rir vá assistir uma comédia. Ou então assista à peça de Samir Yazbek, "O Fingidor" que fala de Fernando Pessoa.
Essa sim é uma peça digna de sentimento, onde rir e chorar se combinam nas emoções do poeta. Uma belíssima idéia, muito bem realizada, com atores impecáveis.


O escritor e psiquiatra Irvin D. Yalom já possui outros livros traduzidos para o português como "A Cura de Schopenhauer".

domingo, abril 02, 2006

Explorando o corpo

Ela pergunta: Onde você está?

E ele responde: Estou na ponta dos meus dedos!