Na minha pele

quinta-feira, março 23, 2006

Réplica...

Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond

segunda-feira, março 20, 2006

Teria morrido...

Se arrependimento matasse, só hoje, eu teria morrido cem vidas....

Deve ser assim que se sente uma pessoa que lutou a vida toda para construir uma casa, criar uma plantação, e de repente um tufão passa por cima e deixa tudo em pedaços. Pedaços que são tão pequenos que podem ser pisados.
Porque o que sobra é resto...
O que um dia foi um todo... o que um dia foi um plano... o que um dia foi importante... vê-se que não valeu nada.
Há uma poesia magnífica de Fernando Pessoa que exprime perfeitamente o que penso.
Leia por favor:

APONTAMENTO
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível?
Sei lá!Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra?
A minha alma principal?
A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Álvaro de Campos, 1929


Talvez, em alguns dias, eu pare de emanar pensamentos indignos de serem escritos aqui.
E com certeza a casa que foi destruída será refeita e desta vez será um castelo, mas por enquanto, o meu único pedido é por justiça divina...

domingo, março 12, 2006

Bravos...

BRAVOS SÃO AQUELES QUE RECONHECEM A HORA DE DESISTIR...

Não saí de um infindável momento de espera para entrar em outro longo filme ao lado de um telefone... Por isso abro mão da luz do farol pois esta é muito efêmera.

quinta-feira, março 02, 2006

De olhos fechados

Na vida real,
no dia dia,
no decorrer das horas onde estamos com os olhos abertos,
fica fácil controlar nossos pensamentos e desejos.
Quando algo indesejado se aproxima, basta você mudar de rumo.

Mas infelizmente...quando fechamos os olhos na hora de dormir...não há como fugir do que escapamos durante o dia.

Será isso uma forma da mente trazer à tona o que tanto tentamos apagar?
Não basta aceitarmos que não queremos mais?
Ah esses sonhos...

E ao mesmo tempo, no mundo real, a vida lhe entrega de bandeja uma nova oportunidade.

Mas um tipo de oportunidade que lembra a luz de um farol.

Quando o navio se aproxima, há horas que a luz está ao seu alcance,
mas quando menos se espera,
ela já virou de costas e aponta para outro lado.

FICA MUITO DIFÍCIL AGARRAR A LUZ DE UM FAROL, AINDA MAIS QUANDO ESTA SE MANTÉM GIRANDO...