Na minha pele

terça-feira, abril 22, 2008

A INFIEL

Uma leitura de alta qualidade para ambos os sexos. Este é o livro da somali Ayann Hirsi Ali (Magan), “INFIEL”, que conta com riquíssimos detalhes toda a sua arrepiante história de vida.

Nascida na Somália, ela passou pela clitorectomia (a mutilação vaginal), mudou-se para a Etiópia, fugiu para a Holanda, acabou virando deputada e após ser jurada de morte por radicais, mora hoje nos Estados Unidos e foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes no mundo.

Li boa parte deste livro durante minha recente viagem pelo Egito e confesso que a paisagem ao meu redor, cheia de mulheres cobertas por panos, chamados para a prece cinco vezes ao dia nos alto falantes das cidades e o próprio comportamento masculino em um país islâmico, deixou a leitura do livro mais real ainda.

Ayaan é uma mulher brilhante. Daquelas que sonhamos ser um dia. Quando tem alguma dúvida, tem mais sede ainda de descobrir a resposta e vai até o último suspiro para conseguir chegar onde quer.

Depois de ler títulos como “O livreiro de Cabul” e tantas outras obras sobre o oriente médio e o islã, que agora tomam conta das prateleiras das livrarias, finalmente consegui acreditar e entender o que se passa nessa cultura tão distante da nossa.

É claro que esta é a experiência de uma pessoa. Tantas outras ao redor de Ayaan não tiveram o mesmo caminho, as mesmas dúvidas e muito menos tentaram encontrar uma verdade mais lógica. Mesmo assim, enxergando o islã pelos olhos de alguém que já usou a burca, já rezou cinco vezes por dia, já se submeteu às leis mais severas desta religião, e virou atéia, tudo ficou mais claro.

Olhava ao meu redor nas ruas do Cairo, da pequena cidade de Aswan, e de certa forma, na minha recém diminuída ignorância, entendi aquelas mulheres.

Para os homens, um aviso. Não é um livro feminista como podem achar. É um livro sobre a escolha de caminhos, a liberdade de expressão, a descoberta de um indivíduo independente.

A autora é tão “sábia” com relação à sua própria história que não me contive e grifei centenas de páginas do livro. Cada citação merece ser guardada, e cada atrocidade, eternamente lembrada para que lutemos pelo fim delas.

Invista no seu próprio crescimento pessoal. Abra a sua mente e leia este livro.
Vale mais do que a pena, vale uma vida.

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segunda-feira, abril 21, 2008

Morte ao caso Isabela

Se o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá fosse morto, será que ficaríamos livres de noticiários insuportavelmente baseados na notícia da morte da menina Isabela?

Já basta. Aliás faz tempo que já basta.

Uma imprensa sedenta pelo circo que ela mesma criou agora noticia fanatismos da população. Pessoas, sem vida própria, que viajaram 400 km ou mais para vir ver o local do crime. Banheiros químicos tiveram que ser colocados na rua. Agora a família do casal sofre atentados de violência.

Isso sem falar nos pobres moradores vizinhos que passam o inferno para chegar e sair de casa. Não importa se são ou não culpados. Desde o começo eles foram julgados como assassinos e pronto. Por sorte, pelo que tudo indica, eles realmente orquestraram este hediondo crime, mas não estou aqui para avaliar isso. O que está errado no desenrolar do caso é o processo sanguessuga da imprensa televisiva brasileira.

A luta por audiência fez de apresentadores e repórteres, verdadeiros promotores e criminalistas respeitados. Teorias não faltaram. Cada um com a sua opinião pessoal, suas frases montadas de “tudo indica” e com isso horas de programação foram tomadas por UMA ÚNICA notícia. E com criatividade nossa categoria destrinchou a mesma e segmentos:

Isabela morreu
Indícios
Depoimentos casal
Depoimentos famílias
Povo fala
Histórico família
Mãe que não se pronuncia
E-mails
Ataques da população
Recados no orkut
Cenas da Isabela em vida

E por aí vai. Tudo é motivo para editar um VT sobre a pobre menina Isabela.

Isabela de manhã.
Isabela na hora do almoço.
Isabela de tarde.
Isabela no jantar.
Isabela antes de ir pra cama...

É mais freqüente do que doses de antiinflamatório.

Será que o Brasil parou? E o mundo?
Está tudo calmo no Tibet?
A dengue já não mata mais ninguém no Rio nem no interior de São Paulo?
O caso daquela menina de 12 anos torturada em Goiânia não merece atenção e desfecho?
A tentativa de aumentar o tempo do Presidente Lula no cargo, seja por mais dois anos seja por uma nova reeleição, não são alarmantes o suficiente?
O pedido do General Augusto Heleno de maior atenção para a segurança na Amazônia não são dignos de longas discussões sobre o tratamento dado à região e à demarcação de reservas indígenas?

Pelo visto, não.

Enquanto esse casal não for condenado, culpado por um júri, mandado para a cadeia, estuprado pelos detentos e detentas, torturados de formas bizarras durante sua estadia na cadeia e quem sabe, morto por não resistir à fúria de prisioneiros tão inescrupulosos quanto, o Brasil continuará parado, cego e surdo.

Mas pra mim chega, de agora em diante tapo os ouvidos e canto “lá lá lá lá” para não fazer parte dessa população apaixonada por novelas que vive a desgraça dos outros sem se tocar, ou pior, sem dar a mesma atenção e dedicação à sua própria vida.

Tenho mais o que fazer.

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